sábado, 8 de outubro de 2016

Outlander



Os banhos quentes quase venceram...
Abraçamo-nos durante muito tempo sem falar. Finalmente, ele murmurou a boca abafada em meus cabelos:
- Por quê?
Beijei seu rosto, úmido e salgado. Podia sentir seu coração batendo contra as minhas costelas e não desejava mais nada além de ficar ali para sempre, sem me mover, sem fazer amor, apenas respirando o mesmo ar.
- Tive que fazer - respondi. Ri um pouco trêmula. - Não sabe como estive por um fio. Os banhos quentes quase venceram. — Então, chorei, estremecendo, porque a escolha era tão recente e porque minha alegria pelo homem que tinha nos braços misturava-se a um dor dilacerante pelo homem que eu jamais veria novamente.
Jamie abraçou-me com força, pressionando-me com seu peso, como se quisesse me proteger, para impedir que eu fosse levada pela atração esmagadora do círculo de pedras. Por fim, minhas lágrimas cessaram e fiquei deitada, exausta, a cabeça apoiada em seu peito reconfortante. Já escurecera completamente, mas ele continuava a me abraçar, murmurando baixinho, como se eu fosse uma criança com medo do escuro. Presos um ao outro, não nos afastamos nem mesmo para acender um fogo ou uma vela.
Finalmente, Jamie levantou-se e, pegando-me no colo, carregou-me para o banco, onde se sentou, aconchegando-me em seu colo. A porta da cabana continuava aberta e podíamos ver as estrelas começando a cintilar sobre o vale lá fora.
- Sabe - eu disse, sonolentamente — que são precisos milhares e milhares de anos para a luz daquelas estrelas nos alcançarem? Na verdade, algumas estrelas que vemos podem já estar mortas, mas nós não sabemos, porque ainda vemos a luz.
- É mesmo? - disse, acariciando minhas costas. - Não sabia.
Devo ter adormecido a cabeça em seus ombros, mas acordei por um instante, quando ele me colocou delicadamente no chão, numa cama improvisada com os cobertores que carregava na sela. Deitou-se ao meu lado e puxou-me para junto de seu corpo outra vez.
- Descanse Sassenach — sussurrou. — Amanhã vou levá-la para casa.
Acordamos pouco antes do amanhecer e estávamos no caminho de descida
quando o sol se levantou, ansiosos para deixar Craig na Dun.
- Para onde vamos, Jamie? — perguntei, alegrando-me com a perspectiva de um futuro que o incluía, ainda que deixasse para trás a última chance de retornar para o homem que havia - que iria? - me amar um dia.
Jamie freou o cavalo, parando para olhar por cima do ombro por um instante. O círculo ameaçador de pedras verticais era invisível daquele ponto, mas a encosta rochosa parecia erguer-se intransponível às nossas costas, coberta de pedregulhos e moitas de tojo. De onde estávamos a cabana em ruínas parecia mais uma rocha proeminente, como uma articulação óssea projetando-se do punho cerrado de granito da colina.
- Quisera ter lutado por você — ele disse repentinamente, olhando para mim novamente. Seus olhos azuis estavam escuros e ansiosos.
Sorri para ele, emocionada.
- Não era sua luta, era minha. Mas você venceu, de qualquer modo. - Estendi a mão e ele apertou-a.
- Sim, mas não foi isso que eu quis dizer. Se eu tivesse lutado com ele homem a homem por você e vencido, você não precisaria sentir nenhum arrependimento. - Hesitou. - Se um dia...
- Não há mais nenhum "se" — eu disse com firmeza. - Pensei em cada um deles ontem e ainda assim estou aqui.
- Graças a Deus — ele disse, sorrindo. — E que Deus a proteja. — Em seguida, acrescentou: — Embora eu jamais vá entender por quê.
Passei os braços em torno de sua cintura e abracei-o, conforme o cavalo resvalava pela última encosta íngreme.
- Porque — eu disse - eu certamente não consigo viver sem você, Jamie Fraser, e isso é tudo. Agora, para onde está me levando?
Jamie virou-se na sela, para olhar a subida da colina.
- Rezei durante todo o caminho ladeira acima ontem - ele disse baixinho. - Não para que você ficasse não achava isso certo. Rezei para ser forte o suficiente para deixá-la ir embora. - Sacudiu a cabeça, ainda fitando a colina, uma expressão sonhadora nos olhos. - Eu disse: "Senhor, se nunca tive coragem em minha vida antes, que eu a tenha agora. Permita que eu seja corajoso o suficiente para não cair de joelhos e implorar-lhe que fique." - Afastou os olhos da cabana e sorriu brevemente para mim.
- A coisa mais difícil que eu já fiz Sassenach. — Virou-se na sela e direcionou o cavalo para o leste. Era uma rara manhã luminosa e o sol matutino fazia tudo reluzir, desenhando uma fina linha de fogo ao longo das rédeas, da curva do pescoço do cavalo e nas faces e nos ombros largos de Jamie.
Ele respirou fundo e balançou a cabeça em direção à charneca, indicando uma passagem estreita e distante, entre dois penhascos.
- Agora, acho que posso fazer a segunda coisa mais difícil. - Esporeou o cavalo delicadamente, estalando a língua. - Estamos indo para casa, Sassenach. Para Lallybroch.

(A Viajante do Tempo - Livro 01 - pg. 419)
Créditos

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